Alexander Lott, investigador no Norwegian Centre for the Law of the Sea at the UiT – The Arctic University of Norway, descreve que nos últimos 14 meses, os cabos submarinos de comunicação que ligam a Estónia, Finlândia, Alemanha, Lituánia, Rússia e Suécia no Mar Báltico foram danificados nove vezes. Além disso, um cabo elétrico submerso e um gasoduto também sofreram cortes devido a uma âncora de um navio. Esses incidentes aconteceram em três eventos diferentes, todos relacionados a um navio comercial estrangeiro arrastando sua âncora ao longo de mais de cem quilômetros no fundo do mar.
Em dezembro de 2024, especificamente no dia 24 (daí ser designado de Christmas Day), o cabo submarino elétrico ESTLINK 2, que liga à Estónia e Finlândia, juntamente com quatro cabos de dados, foi cortado na zona económica exclusiva (ZEE) da Finlândia. Enquanto o navio Eagle S arrastava a âncora e navegava para oeste, as Forças de Defesa Finlandesas e a Guarda Costeira intercederam ao largo de Helsínquia e Tallinn recorrendo a um navio patrulha e dois helicópteros de modo a conseguir mandar parar e abordar o navio Eagle S. Este navio com bandeira das Ilhas Cook, faz parte da “frota sombra” (em inglês shadow fleet) russa, usado como forma de contornar as sanções. O navio foi parado pouco antes de cruzar o cabo elétrico ESTLINK 1, o gasoduto Baltic connector e outros cabos subaquáticos.
Perante tais ataques, a NATO tenta encontrar uma resposta. Mark Rutte (Secretário-Geral da NATO), Alexander Stubb (Presidente da Finlândia) e Kristen Michal (Primeira-Ministra da Estónia) coorganizaram a “Cimeira dos Aliados do Mar Báltico”1 que decorreu no dia de 14 janeiro de 2025 na capital da Finlândia, em Helsínquia.
Durante este encontro ficou decidido avançar com um novo exercício específico para a proteção dos cabos submarinos com o nome “Baltic Sentry”. Esta resposta por parte da Aliança Atlântica permite reforçar a sua presença no Mar Báltico bem como melhorar as capacidades dos Aliados para responder a tais manobras desestabilizadoras.
Os incidentes no Mar Báltico evidenciam as crescentes tensões geopolíticas, num contexto de competição estratégica entre a Rússia e os membros da Aliança Atlântica. A resposta da NATO inclui a consolidação da presença militar e a aumento da cooperação com países parceiros, reflete a disposição da Aliança em garantir a segurança e estabilidade da região.
Poderão estes incidentes deslocarem-se para o Atlântico Norte? Estará Portugal preparado para prevenir este tipo de atos desestabilizadores, enquanto Estado soberano, sem esperar pelas reações da Aliança Atlântica?
Referências:
Lott, A. (2024, December 31). Christmas Day Cable Cuts in the Baltic Sea https://www.ejiltalk.org/christmas-day-cable-cuts-in-the-baltic-sea/
NATO. (2025, January 14). NATO launches ‘Baltic Sentry’ to increase critical infrastructure security. https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_232122.htm
Autora:
Professora Céline Rodrigues, Doutoranda em Relações Internacionais, Universidade Nova de Lisboa, IPRI